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Posts Tagged ‘Cães Perigosos’

Já demonstrei aqui a minha perspectiva em relação a esta discussão. O governo também quer criminalizar os donos de cães perigosos quando os seus animais cometem um “ilícito”. Não estou de acordo. Não devem ser só os donos de animais «catalogados» como perigosos a serem responsabilizados por eles. Se um caniche me morder o tornozelo eu também vou pedir contas à sua dona, e quero que ela pague criminalmente por isso. (Quem encontra um estereótipo na última frase?) Haja o mínimo de igualdade perante a lei! Mas… não é essa a questão.

(Imagem via Denúncia Animal.)

A questão central é o medo. O medo e a ignorância que criam esta diabolização de simples animais. São tão só animais que não têm nenhum gene malévolo que os leve institivamente a morder criancinhas.

O medo, e o que ele provoca, em alguns comentários à notícia do Público:

(i) “Acho bem que sejam completamente proibidas as raças perigosas. Quantas crianças mais, precisam de morrer ou ficar desfiguradas para o resto das suas vidas???”

(ii) “E ser bem aplicada, estamos fartos de ter leis giras para não cumprir. Ainda este fim de Semana apanhei um susto junto à Bomba da Repsol Entrada de Olhão (Sentido Faro-Olhão), estacionei junto à bomba e antes de sair do carro avançou uma PitBull preta sem acaimo e sem trela com o dono a assistir reside nas casas próximo e não chamou a cadela. Tem sinais de estar a amamentar…criar mais uns meninos iguais à mãe. Esta lei há muito deveria estar ai!!! E ser aplicada com dureza! Mais uma vez deixo o alerta à PSP de Olhão, para agir quanto antes.”

(iii) “As vezes os “amigos dos animais” deviam ser mordidos por rotwaillers, ou pitbull´s, para saberem o que doi. Como se julga um ataque a uma criança por um animal desses?!por mim era extingui-los, mas como este país está meio “efeminado” fiquemos pela segunda melhor solução culpar os donos…Que metam açaimes, que nao os deixem à solta. Os amiguinhos dos animais preferem um cao a um humano….Arranjem amigos, e familia…. Nem deviam ser ouvidos nestas questões.”

É somente com base no medo cego que se dá este salto gigante para a frente, e se ultrapassa tudo o que se deve fazer, e devia ter feito antes, no que concerne à legislação sobre animais domésticos. Disse.

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Não é o tema esperado para a 2ª postagem deste blogue, mas é um tema interessante. O governo prepara-se para proibir a importação, reprodução e criação de sete raças de cães consideradas perigosas. Podia argumentar contra esta medida, já que não escondo que estou contra esta lei cega e irreflectida. Contudo, e dentro do quadro temático deste blogue, vou salientar um aspecto apenas: o da construção mediática da realidade.

Sabemos que têm proliferado notícias que atestam a “perigosidade destas raças de cães”, e sabemos que certos tipos de cães atacam mais, e causam mais danos, do que outros. Quer dizer, a primeira parte talvez não esteja assim tão correcta porque existem aqueles cães de “meia leca”, pequenotes e agressivos, que atacam tudo o que mexe e não causam grandes danos. Ainda assim, as regras da física obrigam-nos a ter mais cuidado com a mandíbula poderosa de um rottweiler, ou de um pastor alemão.

Mas o curioso é que o pastor alemão não é uma das raças a proibir. O doberman também não. E tantas outras raças, mais os rafeiros, ou os simples cruzamentos de raças (entre um pitbull e um rottweiler, por exemplo) vão passar impunes. Tudo isto porque a comunicação social criou um clima de medo, e inculcou, em certa medida, uma imagem negativa na mente das pessoas (uma espécie de “consciência colectiva”) em relação a certas raças de cães, tais como o pitbull, o rottweiler, e outras. Essa imagem associa as características dessas raças a comportamentos concretos, que incorporam a agressividade, perigosidade, etc. Está em causa uma evidente naturalização do comportamento dos animais, e uma desresponsabilização do factor humano, e das influências que esse factor tem nos próprios usos que fazemos dos animais, e na forma como os tratamos.

Não me vou alongar sobre os determinantes do comportamento canino, visto que eles tecem uma teia complexa que extravasa completamente os domínios da sociologia e das restantes ciências sociais. Mas vou debruçar-me sobre a ideia feita sobre estas raças, sobre a representação social, socialmente construída, deturpada e alimentada pelos media, que amplificam alguns “casos” e criam o pânico moral conforme o definiu Stanley Cohen, não em relação a um grupo social marginalizado ou desviante, mas em relação a simples animais, que são eles próprios um produto mais social do que biológico.

Assim, pretendo apenas salvaguardar este aspecto: o de que a representação social sobre algo nem sempre corresponde à verdade. No máximo, é uma parte dela. Por isso, qualquer medida do governo deveria ser mais reflectida e cientificamente apoiada, e não deveria responder a estímulos sociais que propõem uma visão deturpada da realidade.

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