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Archive for the ‘Ideias Soltas’ Category

Revivalismos

80s Há uns tempos fui a uma sessão de debate sobre “revivalismos” e não liguei patavina. Disseram-se poucas coisas interessantes, e o mais perto que estive de assistir a um espírito revivalista foi quando se projectaram fotos do Porto nos anos 60 e 70. O revivalismo, para mim, é uma revisita do passado, um retorno com novos contornos, uma tentativa de reviver uma experiência, um ambiente, um modo de estar. Obviamente que não se falou de nada disso.

Na altura eu não tinha a consciência de que era, de certa forma, um revivalista. Isto porque gosto de revisitar tempos que não vivi. Música, cinema, arte em geral. Revisito os anos 80 na música e no cinema, mas não os vivi. Nasci a meio da década de 80 e às vezes acho que devia ter nascido em 74 ou 75.  Revisito a época medieval nas feiras medievais de verão, e nas minhas visitas a monumentos, como tanta gente o faz. Revisito o Porto oitocentista nos meus passeios curiosos.

Revisitar é viver?

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«Bom, caso tenham estado a viver enterrados num buraco (no gelo! – har har), nós pinguins, sobretudo Eu, o Miguel, o Guilherme e o Gonçalo, estamos deveras insatisfeitos com as nossas vidas. Quero tentar explicar algumas das razões pelas quais isso acontece, de um ponto de vista principalmente pessoal (mas haverá quem se identifique com o que escrevo, mesmo se o ‘estamos’ é só para não estar sempre a utilizar a primeira pessoa do singular); talvez identificar alguns dos problemas nos ajude a combatê-los; mesmo que não, apeteceu-me escrever isto e achei que o devia partilhar convosco. Creio que todos (sim, eu também) somos culpados dos males que se seguem. Sei que todas as questões se ligam umas com as outras; esta foi a ordem possível. Talvez me tenha também esquecido de mencionar alguma coisa. (Ah, espero sinceramente que ao lerem isto não fiquem “ah, agora é que estou mesmo deprimido”.)

Porque estamos Velhos

A sério: quantas vezes vos acontece algo do género de ler, com inveja, que alguém tem 16 anos ou assim e pensar “bom, também só tenho mais… QUATRO anos!?!?”, o que leva imediatamente a “OMFGOMFG&c, sou tão velho! que horror! o que é que aconteceu ao tempo?”. Certamente muitas. A mim também: só de pensar que as irmãs do Guilherme, do Alex e do Berna têm a idade com a qual eu saí do liceu… Sentir-se velho, de vez em quando, é natural; mas nós, por causa da inutilidade das nossas vidas, não temos conseguido lidar bem com a passagem do tempo – como se por não o aproveitarmos não quiséssemos que passasse.

Porque estamos Velhos

Às vezes penso que nas nossas cabeças não somos muito melhores do que há uns anos. Por vezes dou-me conta de que a minha transição da adolescência para a ‘adultidade’ falhou profundamente. Não temos nenhum conhecimento empírico da vida, não adquirimos quase nada com a nossa passagem à idade adulta, não evoluímos. Claro que isto acentua a ideia de “o que é que aconteceu ao tempo?”, o que nos deixa ainda mais deprimidos.

Porque somos Inúteis

Talvez a mais óbvia e abrangente. Nós não fazemos nada. Estamos umas horas na faculdade, estudamos um bocadinho e depois vamos para o computador ou entretermo-nos de qualquer forma estúpida e inane. Não trabalhamos para ganhar dinheiro e experiência. Não estudamos fora do currículo universitário. Não praticamos desporto. Não tocamos música, não escrevemos textos, não vamos a museus, não vamos conhecer pessoas, não vamos passear, não ficamos sequer sentados em qualquer lado a trocar ideias. Desperdiçamos o nosso tempo inùtilmente. Assim, como podemos ter testemunhos, tangíveis ou não, da nossa realidade biopsicotemporal, da nossa vida? É sobretudo por isto que não nos damos conta do tempo passar.

Porque somos Preguiçosos

Bom, queixamo-nos, mas a verdade é que a culpa de estarmos assim é (quase) toda nossa. Não fazemos nada para contrariar isto (ou não o fazemos sèriamente). Repetimos muito, muito mais “temos de….” do que fazemos, realmente, o “….”. Eu queixo-me da fac, mas ainda não me mentalizei para me mudar mesmo. Queixo-me da minha família, mas não tomo decisões assertivas com vista a sair daqui. Talvez tenha a ver com sermos uma data de putos mimados e preguiçosos habituados a que lhes tratem dos problemas. Acho que é forçoso e urgente pararmos com as merdas de “devíamos” e começarmos a agir.

Porque estamos Assim

Estamos assim porque estamos assim? O RLY? YA RLY. Acho que se algum de nós tentasse fazer um esforço para tentar corrigir o que vai mal na sua vida e partilhasse isso com os outros, iríamos por arrasto lentamente melhorar-nos, qual grupo de  ex-toxicodependentes. Infelizmente, nós (todos nós) quase só nos sabemos queixar ou propôr parvoíces que não levarão a lado nenhum, e assim será difícil saírmos deste estado.

Porque estamos Sós

Quando estávamos no lycée, estávamos sempre ao pé uns dos outros. Trocávamos ideias sobre as aulas, partilhávamos as parvoíces que nos passavam pela cabeça, colapsávamos de estupidez… Hoje, passo a maior parte do tempo por mim: não tenho ninguém com quem conversar ou apenas com quem estar – também raramente fizemos novos amigos… Além disso, quando nos encontramos, acho que perdemos um bocado aquela naturalidade que tínhamos na escola, de simplesmente estar ali. Tenho-me dado conta do quanto sinto falta disso, por parvo que pareça.

Porque estamos Sós

Bom, aqui refiro-me à outra solidão. Às vezes não se sentem chateados por não terem ‘namorado/a’? Quando penso no tempo ao qual não tenho intimidade física (e não só: ‘this, that and the other’) com outras pessoas fico realmente pasmado. Mas que raios aconteceu?

Porque a Universidade não presta

Eu tinha uma ideia algo ingènuamente idílica de quando fosse para a universidade: um sítio moderno e cosmopolita, onde se cultivasse e respeitasse o saber, onde se sentisse o poder do conhecimento. Em vez disso, hordas de idiotas estúpidos e barulhentos; professores incompetentes; um campus horroroso; um espaço e uma entidade decadentes e pouco acolhedores. Sinto-me mesmo desiludido com a Universidade em si.

Porque estamos Desiludidos

Já mencionei como a universidade me desiludiu; mas, sinceramente, nada na minha vida é como eu pensava há uns anos. Pensava em estudar algo que me interessasse, vivendo por mim, tenho uma vida interessante; toda a minha situação actual me desilude. Também estou muito desiludido comigo próprio, por tudo isto de que falo e sobretudo por não ter feito nada quanto a isto (um círculo vicioso de inacção).

Porque estamos Sensíveis

Acho que me tornei muito mais sensível à infelicidade. Dantes, podia estar sem fazer nada, podia ter um dia de merda, podia estar ao pé de gente odiosa. Agora, tudo isso me torna chateado ou infeliz ou neurasténico. Talvez por estar mais insatisfeito em geral? É provável que quando me sinta mais bem-disposto, em geral, com a vida isto me passe, mas por enquanto muitas pequenas coisas me indispõem demasiado, o que é muito chato.

Porque estamos Estúpidos

Menciono isto frequentemente: sinto que estupidifiquei imenso desde que entrei para a faculdade. Falta de interesse pelas aulas, falta de trabalho regular em casa (e de vontade de o fazer), falta de amigos ou colegas que nos estimulassem a nos ultrapassarmos.. Sinto que decaí mentalmente: tenho dificuldades de raciocínio, de concentração, de memória, e isso chateia-me imenso. Sei que alguns de vós concordam. Isto, claro, faz com que tenhamos uma má auto-estima, o que não ajuda nada a que tentemos melhorar a nossa situação.

Porque estamos Podres

Bom, este título era mais para manter o estilo. Refiro-me à nossa decadência física. Fazemos muito pouco desporto, e isso, para além de influir negativamente na nossa saúde em geral (incluindo na nossa saúde mental) e de ser outro factor de não-experiência (bom, eu não me posso queixar tanto, sempre tenho umas competições de vez em quando), também nos faz pensar com nostalgia no passado, em que estávamos mais em forma.

Pronto. Lede, catartizai, talvez reflecti, quiçá comentai.

Eduardo Mendonça, CC BY-NC-ND»


texto recebido através duma espécie de spam mail e divulgado aqui porque sim

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12-2-2008-dsc000831Café do PS, em Valadares

Há uns tempos atrás, Pacheco Pereira publicou esta foto no seu blogue. Enviei-lhe a foto porque era uma curiosidade, mas também porque era uma forma de criar uma pequena interacção com um intelectual conhecido da nossa praça.

Recupero-a agora, e edito-a no meu blogue.

É um café/tasca que supostamente está afecto ao Partido Socialista, mas não é propriamente frequentado pelos seus militantes. São homens, para cima da meia-idade,  com rendimentos baixos, e capital cultural fraco, os frequentadores habituais do café. Lá dentro, uma fotografia do Jorge Sampaio na parede, algumas mesas, e uma sala de jogo improvisada nos anexos.

Nunca encontrei mais nada deste género em Portugal, e por isso a curiosidade da coisa. Aqui fica a foto.

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Sociologando (2)

Desculpas, desculpas e mais desculpas aos leitores. Parei de escrever no blogue, primeiro por falta de tempo, e depois por falta de vontade e inspiração.

Primeiro, devo falar do estágio que fiz, e que entretanto terminou. Óptima experiência a todos os níveis, que me permitiu conhecer por dentro uma empresa importante no nosso país. O meu trabalho era fundamentalmente administrativo: tratar de papelada, atender telefones, gerir algumas bases de dados, etc. Mas também teve uma forte componente humana, bem mais difícil de gerir: participei em alguns momentos de recrutamento e selecção de pessoas, e tive de apoiar a coordenação de um processo de formação.

Quanto ao Sociologando, devo dizer-vos que tenho procurado novos colaboradores para o blogue, e espero que em breve esteja mais gente a escrever nesta plataforma.

Espero também escrever alguns textos relacionados com a tese que estou a fazer, entre outras coisas.

Voltarei a escrever em breve.

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Tenho reparado em alguns “confrontos” entre portugueses e brasileiros na Internet. Basta fazer umas pesquisas pelo youtube e ver os comentários e diálogos que se geram entre pessoas das duas nacionalidades. Também temos um bom exemplo se acedermos a alguns fóruns, blogues, ou chats. No fundo, qualquer plataforma que permita a troca de palavras entre portugueses e brasileiros é um bom local para encontrar racismo, ódio, e preconceito.

Os estereótipos são as principais armas de arremesso. Os portugueses são burros e velhos. Um povo racista e pouco humilde. As portuguesas são feias, gordas, têm bigode, e corrimento vaginal (esta pérola anda por aí). Os brasileiros são burros e atrasados. Um povo miserável que só liga ao samba e ao Carnaval. As brasileiras são prostitutas.

Os povos irmãos odeiam-se. Como dois bons irmãos, pois claro.

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Os portugueses são bichos interessantes. Sem ofensa, é claro. Num grande inquérito, realizado em 1997, a generalidade dos portugueses demonstrava uma aspiração ao trabalho independente (por conta própria). No entanto, a contradição vinha logo de seguida. Não só preferiam o trabalho nas grandes empresas, como tinham predilecção pelo sector público. É assim mesmo, o empreendedorismo dos portugueses morre na dimensão simbólica. O trabalho por conta própria é socialmente mais valorizado do que o assalariado. Por isso, surge o almejo, a aspiração a ele. Mas este é apenas um instinto social filho das representações impensadas. Na dimensão material, de concretização prática, os portugueses preferem a segurança e a protecção. E por isso socorrem-se de outros atalhos do senso comum, o senso que lhes diz que o trabalho nas grandes empresas e no sector público é mais fiável. Não estão necessariamente errados.

Se nos «tempos modernos» somos impelidos ao empreendedorismo, e se até o desejamos, mas não conseguimos ter esse edge, essa capacidade de sermos inovadores, de arriscar, de [inserir mais chavões], é porque falta alguma coisa. O quê? Eu proponho uma conversão religiosa. Que nos convertamos ao protestantismo. Max Weber lá encontrou uma associação entre a ética protestante e o espírito do capitalismo. Segundo o autor, os protestantes apreendem um conjunto de disposições (aqui dou-lhe um sentido bourdiano) que lhes permitem ter mais êxito na vida profissional (vá lá, nos negócios). Uma verdadeira ética para o trabalho, que está ausente nos católicos. A sua tese será pertinente nos nossos dias? Eu não sei, mas não me importava de arriscar a conversão.

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